Brian Vaughan – prestem atenção nesse cara – criador de Ex Machina, Runaways, que estou muito afim de ler e o alucinante Y, o último homem, já na segundo capa-dura lançado no Brasil, arrebenta com o lindo O Orgulho de Bagdá, publicado lá pela Vertigo, que já começa brilhante pelo nome.
É uma história sobre quatro leões – um velho macho, duas fêmeas em constante conflito de gerações e o filhote da mais nova – e como tudo muda em suas vidas quando o zoológico de Bagdá é bombardeado pela força aérea americana e eles se vêem soltos pelas ruas de uma deserta e destroçada cidade.
É uma jornada pelo horror da guerra e a perda de auto-estima de um país pelos olhos destas quatro criaturas. Eles nunca viram nada como uma cidade, somente selva e zoológico, e nutrem pelos homens, respeito e gratidão pela alimentação e cuidados recebidos ao longo de sua vida de encarceramento.
Esfomeados, desnorteados, em busca de comida e de uma mítica visão do horizonte, eles encontram perigos, dilemas morais e algumas verdades sobre os seus amigos homens, mas eles não perdem o orgulho. São os únicos orgulhosos no cenário desolado e triste, ilustrado brilhantemente pelo artista Niko Henrichon que, aliás, dá um show. As imagens são fortemente carregadas de um tom alaranjado terracota e quente e transmitem claramente o calor, a areia e o aspecto morto e parado no tempo que uma cidade deve ter após ser bombardeada por dias seguidos pela mais poderosa força aérea do planeta. Uma coisa que me veio à mente: esta ótima leitura pode ser uma excelente companhia para uma cerveja Rare Vos, da cervejaria americana Ommegang, garrafa de 750ml. A aspereza e a secura da história convivem em perfeita harmonia com a suavidade e ternura desta cerveja. O leve torpor que o final da garrafa proporcionará será bem vindo e também o ajudará a digerir o universo tanto surreal quanto real. Vou falar dela mais tarde. Garanto que será uma hora de vida muito bem investida.