domingo, 11 de março de 2007

Ceará, Iemanjá e garras de adamantium

Saudade. O nome da nova aventura do Wolverine não poderia ser melhor. Estava com saudades de uma boa e original história do baixinho que muito contribuiu com a minha paixão pelos quadrinhos. Saudade também é uma palavra que só existe na língua portuguesa, mais especificamente aqui no Brasil, e é justamente o nordeste brasileiro que os artistas franceses Jean-David Morvan e Philippe Buchet decidiram usar como cenário para sua história.

A propósito, esses franceses são apenas os primeiros de uma série de artistas europeus que trabalharão, dando uma oxigenada, em alguns dos principais personagens da Marvel.

A história começa quando o herói canadense desembarca de férias em Fortaleza e logo tem sua moto roubada por uma pivetada típica de toda grande cidade brazuca. O que se desenrola é uma acelerada mistura de policiais corruptos e violentos, perseguições alucinadas, misticismo, amizade e um poderoso pai-de-santo mutante.


Um momento chocante na narrativa é a seqüência em que o baixinho é fuzilado e tem seu corpo arrastado pelo carro dos policiais. Uma violência somente imaginável pelos franceses, mas que recentemente virou realidade no triste caso do menino João Hélio, no Rio de Janeiro.

A única crítica que faço com relação à Saudade, é que os artistas abusam um pouco da liberdade poética e nos mostram um pouco “república das bananas” demais. Carros ao estilo havana, policiais com tapa-olhos e feições indígenas são alguns dos estereótipos. Faltou pesquisa de campo.

Mas nem só de mazelas sociais é feito este excelente quadrinho. A história é ótima e em alguns minutos acaba, você nem sente o tempo passar. Especial atenção para o “nordestinamento” dos traços clássicos do nosso herói e o ótimo esquema de cores. Como outras tantas histórias do nosso povo, esta não tem um final que poderíamos chamar de feliz, mas vale cada página.


Como não poderia deixar de ser, escolhi para acompanhar este quadrinho, uma cervejinha brasileira que não faria feio para gringo nenhum. Estou falando da Cerpa Export de 350ml. Pequena na quantidade, mas invocada no sabor e nos surpreendentemente poderosos 5,5º de alcool. A leveza e a refrescância da bebida vão suavisar a aspereza da leitura.


Um comentário:

Leandro Bulkool disse...

Fala!

Na casa de um amigo eu passei a mão em Saudade. Não cheguei a ler, mas o traço e cores realmente me impressionaram. Acho que a grande diferença entre os artistas europeus em relação aos norte-americanos, é o cuidado e atenção dada a arte. São menos industriais.