quarta-feira, 28 de fevereiro de 2007

Será que restou algum orgulho?


Brian Vaughan – prestem atenção nesse cara – criador de Ex Machina, Runaways, que estou muito afim de ler e o alucinante Y, o último homem, já na segundo capa-dura lançado no Brasil, arrebenta com o lindo O Orgulho de Bagdá, publicado lá pela Vertigo, que já começa brilhante pelo nome.

É uma história sobre quatro leões – um velho macho, duas fêmeas em constante conflito de gerações e o filhote da mais nova – e como tudo muda em suas vidas quando o zoológico de Bagdá é bombardeado pela força aérea americana e eles se vêem soltos pelas ruas de uma deserta e destroçada cidade.

É uma jornada pelo horror da guerra e a perda de auto-estima de um país pelos olhos destas quatro criaturas. Eles nunca viram nada como uma cidade, somente selva e zoológico, e nutrem pelos homens, respeito e gratidão pela alimentação e cuidados recebidos ao longo de sua vida de encarceramento.

Esfomeados, desnorteados, em busca de comida e de uma mítica visão do horizonte, eles encontram perigos, dilemas morais e algumas verdades sobre os seus amigos homens, mas eles não perdem o orgulho. São os únicos orgulhosos no cenário desolado e triste, ilustrado brilhantemente pelo artista Niko Henrichon que, aliás, dá um show.


As imagens são fortemente carregadas de um tom alaranjado terracota e quente e transmitem claramente o calor, a areia e o aspecto morto e parado no tempo que uma cidade deve ter após ser bombardeada por dias seguidos pela mais poderosa força aérea do planeta.


Tristemente baseado em uma história real, O Orgulho de Bagdá é uma jóia de sensibilidade e seu clímax final é o único possível na vida real de criaturas simples, belas e orgulhosas, perdidas numa cidade de homens que perderam tudo.

Digo sem vacilar (muito) que foi o melhor quadrinho que lí em 2006.


Uma coisa que me veio à mente: esta ótima leitura pode ser uma excelente companhia para uma cerveja Rare Vos, da cervejaria americana Ommegang, garrafa de 750ml. A aspereza e a secura da história convivem em perfeita harmonia com a suavidade e ternura desta cerveja. O leve torpor que o final da garrafa proporcionará será bem vindo e também o ajudará a digerir o universo tanto surreal quanto real. Vou falar dela mais tarde. Garanto que será uma hora de vida muito bem investida.

4 comentários:

Anônimo disse...

Muito bom marcelinho, o traço dessa é du caralho, já está na minha lista de próximos quadrinhos.
Abraço

Anônimo disse...

Apesar de continuar anão seu bom gosto para quadrinhos continua irrefutável.....a cerva não conheço......abs bjs pra bel
Ben Kenobi

Anônimo disse...

arte pura... cerveja quando? duas fumegantes?
Parabéns pelo canal direto

bj
tioPC

Marcus disse...

Muito bom este. Chute no estômago. Quadrinho reflexão!